Sebrae lança pesquisa inédita e autodiagnóstico sobre economia circular

Cuiabá, 25 de maio. Os termômetros na cidade, conhecida como uma das mais quentes do país, marcavam 15°C na capital mato-grossense (recorde quebrado no dia 29, quando a temperatura bateu 12,5°C). Nesse mesmo dia, diversos especialistas se reuniam na capital mato-grossense para a 5ª edição do Congresso Internacional de Sustentabilidade para Pequenos Negócios (CICLOS), que debateu questões ligadas às mudanças climáticas e o papel de pequenos negócios no cumprimento de boas práticas ESG.

Durante o encontro, promovido pelo Centro Sebrae de Sustentabilidade (CSS) e pelo Serviço de Apoio às Micro e Pequenas Empresas em Mato Grosso (Sebrae/MT), o público pode conferir em primeira mão os resultados da pesquisa Engajamento dos Pequenos Negócios Brasileiros às Práticas de Economia Circular.

O que diz a pesquisa
O levantamento aponta que dos mais de 4 mil entrevistados nas cinco regiões do Brasil, 83% afirmaram não compreender ou nunca ter ouvido falar da economia circular. “Esse dado evidencia a urgência de promover a conscientização sobre esse tema entre os pequenos negócios, destacando as oportunidades disponíveis para o meio empresarial”, diz André Luiz Spinelli Schelini, diretor técnico do Sebrae Mato Grosso.

Ele está certo. Um relatório da Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE) alerta que não será possível alcançar a sustentabilidade plena do planeta sem envolvimento dos pequenos negócios. Só no Mato Grosso, eles representam 96% do universo empresarial. “São negócios que contribuem com a geração de emprego e renda no estado e fazem com que essa engrenagem da atividade econômica se desenvolva. E não dá para pensar em desenvolvimento econômico sem pensar na sustentabilidade deles”, afirma Schelini.

Autodiagnóstico em economia circular

Para incentivar os pequenos e médios empreendedores a identificar oportunidades de redução de custos, otimizar o uso de recursos e minimizar desperdícios, o Sebrae divulgou durante o evento o autodiagnóstico em economia circular.

Nele, as empresas respondem a questões como o seu conhecimento e engajamento dos colaboradores no tema e a existência ou não de programas ou projetos para melhorar a gestão dos resíduos sólidos. A partir das respostas, recebem um relatório com o estágio em que estão – e como podem avançar no desenvolvimento de produtos e serviços sustentáveis. 

Protagonistas  da nova economia

Para mostrar na prática como fazer o ESG acontecer, o CICLOS dividiu o evento em duas áreas – verde e azul – as mesmas da Conferência do Clima (COP), da ONU.

Nos palcos, diversos especialistas falaram sobre temas como meio ambiente, governança, implementação de projetos sociais – como a inclusão de refugiados no mercado de trabalho, fortalecimento de marca e greenwashing.

"Greenwashing é apenas um nome bonito para mentira. E as consequências dela podem ser fatais para as empresas, não importa o seu ramo ou atividade"
Dal Marcondes, da Envolverde
Sócia-fundadora da Aganju, empresa especializada em impacto social e ESG, Leana Mattei destacou que cerca de 600 mil micros e pequenas empresas foram afetadas diretamente pelas enchentes no Rio Grande do Sul.

E para deixar de ser parte do problema e entrar para o rol das soluções, ela destacou algumas medidas que podem ser adotadas, como:

Mapear os principais stakeholders (partes interessadas);
Identificar os principais impactos diretos e indiretos, destacando riscos e oportunidades;
Elaborar um plano de ação para mitigar impactos negativos;
Acompanhar e mensurar resultados, comunicando-os com verdade e transparência.
Por fim, ela apresentou um modelo de canva de impacto social, que pode ser encontrado na internet, e levanta questões como “custo social e ambiental”, “receita para solução” e “parceiros para solução do problema”, entre outros.

De onde vem o ar que respiramos?

Especialista em sustentabilidade, SDG Pioneer para o Pacto Global da ONU no Brasil, Denise Hills foi uma das atrações mais esperadas para o primeiro dia. A especialista começou sua aula magna com duas perguntas: “Vocês estão respirando, né? Sabem de onde vem o ar que vocês respiram?”.

Em seguida, veio a resposta: “São 45 quilômetros entre o chão e o vazio total do universo. Esses 45 quilômetros são ‘nada’. É lá onde residem 89% de todos os gases que fazem a vida como a gente conhece nesse planeta existir. Uma pele finíssima e superdelicada. É por isso que eu comecei perguntando para você se vocês respiram. Porque caso duas grandes tecnologias desse sistema não funcionem adequadamente (a árvore e o carbono), o básico da vida não funcionará”, alertou a especialista.

Greenwashing versus greenwishing

Denise destacou ainda a cobrança para que empresas que querem abrir o capital na B3 cumpram com os 17 Objetivos de Desenvolvimento Sustentável (ODSs) da ONU, e destacou a importância de irem ao encontro de greenwishing ao invés do greenwashing.

“Greenwishing é imaginar que, em 2030, a gente pode ter resultados mais ambiciosos. Isso é algo que gostaria de ver não só porque as leis estão exigindo ou porque a Bolsa de Valores está obrigando, mas porque a gente realmente acredita que o papel das empresas é esse”, disse Denise.

A especialista fez ainda um alerta sobre aumentar em até 1,5 °C a temperatura ao invés de 2 °C até 2030. “Algumas [empresas] estão a 20% da meta. E 20% não é para desistir, tá, gente?! É para correr mais.”

Por fim, Denise destacou uma frase emblemática do ex-presidente Barack Obama. “Somos a primeira geração a sentir os efeitos das mudanças climáticas e a última que pode fazer alguma coisa. Eu quero ver isso no meu tempo e não depois que eu morrer.”

Que tal ser um líder evolucionário?

Destaque no segundo dia do CICLOS, Manuel Manga, diretor do Centro de Liderança Evolutiva em São Francisco, na Califórnia (EUA), usou o mesmo tom alarmista de Denise em sua apresentação. E começou resgatando uma fala de António Guterres, secretário-geral da ONU: “Caros amigos, a humanidade está travando uma guerra contra a natureza. Isso é suicida”.

E continuou: “A espécie humana, como Homo sapiens, está se comportando de maneira suicida, destruindo nosso lar, nosso planeta, do qual dependemos”. “Precisamos acordar e entender que vivemos em uma grande crise. Ao mesmo tempo, essa crise nos dá espaço para projetar, criar, construir um futuro melhor. Então, não quero falar apenas sobre a crise. Precisamos falar sobre o que poderia significar para nós criar um futuro melhor. Quero dar a vocês um pouco de esperança.”

E a esperança veio em forma de conselho. “Precisamos conservar o que há de bom na Era Industrial, mas também abandonar o que não é bom para nós e caminhar em direção à era da sustentabilidade”, disse Manga que, em seguida, convidou todos a serem o que ele chama de “líder evolutivo”.

“Liderança é a capacidade de mobilizar a si mesmo e aos outros para tomar ações eficazes em direção a uma visão, um propósito, um objetivo. A liderança pode ser aprendida. Todos podem ser líderes; qualquer um. Não apenas presidentes de países. O mundo hoje precisa de bons líderes – e há muitos maus líderes por aí. Não vou mencionar nomes, mas você sabe quem são.”

O objetivo desses líderes, finalizou Manga, é promover aprendizado, inovação e colaboração. “Parece fácil, mas não é”, afirmou. “Temos muita informação e muito conhecimento, mas adivinhem o que estamos perdendo? Sabedoria. Precisamos de mais sabedoria em nosso povo e em nossos líderes.”

Fonte: Exame.

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