Ciclo de redução da Selic é necessário para combater inflação

O Banco Central (Bacen) interrompeu o ciclo de quedas sucessivas da taxa básica de juros, a Selic, mantendo-a em 10,5% ao ano (a.a.) após oito cortes consecutivos. Essa pausa foi necessária em razão de vários fatores que indicam maiores riscos inflacionários. 

A atividade econômica tem apontado um crescimento moderado desde o início do ano. Já o desemprego se manteve próximo da mínima histórica, 7,8%, enquanto o rendimento real habitual aumentou 1,1%, no último trimestre, alcançando R$ 3,11 mil. 

No ano, a expansão é de 4,3%, com a massa de renda atingindo R$ 307,3 bilhões, recorde na série histórica do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). Esses dados pressionam a inflação, principalmente nos serviços intensivos de mão de obra, essenciais para medir a inflação de demanda.

O Índice de Atividade Econômica do Banco Central (IBC-Br), proxy mensal do Produto Interno Bruto (PIB), registrou alta de 4,01% em abril, em comparação ao mesmo mês do ano anterior, indicando um aquecimento contínuo da economia. 

Além disso, a incerteza fiscal aumentou, uma vez que o governo admitiu que não alcançará a meta de déficit deste ano, bem como não apresentou um plano de contingência alternativo ao arcabouço fiscal, deteriorando as expectativas inflacionárias semana após semana. Na pesquisa Focus, do Bacen, as previsões para 2024, 2025 e 2026 vêm piorando gradualmente — e isso traz riscos ao equilíbrio dos preços atuais.

Outro dado preocupante foi a deterioração dos investimentos no último PIB em relação ao mesmo período do ano anterior, enquanto o consumo do governo e das famílias cresceu, apontando um desequilíbrio futuro de oferta e demanda. O Índice de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA) de maio reforçou os temores quanto à inflação, registrando alta de 0,46% no mês, contra 0,28%, em abril, e 0,23%, em maio de 2023. 

Em 12 meses, o indicador atingiu 3,93%, próximo da banda superior da meta, comparado aos 3,69% em abril. A alta nos preços dos alimentos e na habitação, somada ao aumento nos serviços, demonstra a sensibilidade do mercado de trabalho à demanda governamental. Fato é que uma política fiscal expansionista influencia diretamente os preços dos serviços via mercado laboral. Persistir com déficits fiscais primários levará a um aumento constante do IPCA, que já mostra sinais de aceleração para acima de 4% até o fim de julho.

Essa análise conjuntural justifica uma parada técnica no processo de flexibilização monetária. Reduzir a taxa de juros em um cenário que exige mais responsabilidade pode aumentar as expectativas inflacionárias a longo prazo — e, consequentemente, as taxas de juros do mercado. Se o Bacen não agir de acordo com a sua função, empresários já sentirão expansão dos juros nos financiamentos futuros. 

Para uma queda segura e duradoura da Selic, o governo precisa apresentar um plano de ajuste fiscal eficaz. Só então poderá ser possível a redução das taxas sem temer incertezas.

Fonte: Contábeis

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